A vida pede pressa. Minha mente pede: calma
Mesmo estando um turbilhão aqui dentro o tempo todo por conta do TAG, no fundo a minha melancolia me faz ser lenta
11 de Junho de 2025
Hoje pela manhã, enquanto pensava e esvaziava a cabeça no papel, refleti sobre essa dicotomia que é ser uma pessoa de digestão mais lenta das coisas, mas ao mesmo tempo é exatamente essa lentidão e ruminação demorada dos fatos, emoções, palavras e etc que me deixa extremamente acelerada interna e externamente. O pior é que quando eu não paro pra entender o que tá rolando aqui dentro, isso vira uma bagunça, só piora tudo.
Neste momento, minha mente já começa a abrir várias janelas da reflexão. Puxei lá atrás no passado, como eu funcionava na infância e se sempre foi assim. Sempre tive dificuldade de me encaixar, fosse em casa e dentro da minha própria família, na escola, igreja, no time de vôlei, sempre uma completa outsider, estranha, calada. Sabe aquelas piadinhas: “a Luanna é o óleo que não se mistura” ou no esporte, por não conseguir acompanhar o rápido raciocínio do treinador e suas orientações: “a cabeça de touro”, apelido carinhosamente pejorativo utilizado pra chamar alguém de ✨burro✨.
Eu sempre fui lenta pra fazer amizades e aprofundar nelas, mas ao mesmo tempo conversava muito dentro da sala de aula - mais uma das minhas estranhas dicotomias. Era conhecida por jogar futebol com os meninos, mas passar batom no meio da aula. Lenta pra começar a me interessar pelos meninos ou olhá-los de forma diferente, nem pensava nesse tipo de coisa. Enquanto isso as meninas já escolhiam os seus preferidos a serem fortes candidatos a namoradinhos na vasta imaginação delas, e na minha cabeça não fazia o menor sentido, eu só tinha 7 anos, mas estranhamente fazia parte das conversas na ânsia de buscar pertencer a algum grupo e no fim das contas não sentir pertencente a nenhum.
Agora, para pra pensar, a vida sempre pediu pra todos nós essa agilidade, esse imediatismo, esse encaixe no ritmo dela e dos outros, das regras e padrões e do sistema, respostas rápidas, escolhas decisivas entre uma coisa ou outra, essa pressa. Na escola? Prazos entregas de tarefas e trabalhos. Em casa? Nem sempre nossos pais entendem que temos ritmos diferentes dos deles. Na faculdade? Meu Deus, aqui é uma tortura pros lentos. Prazos, prazos e mais prazos muito curtos por sinal, trabalhos, pontos extras, uma métrica inalcançável e inatingível de produtividade, tudo isso ainda tendo que conciliar com trabalho de 8 horas por dia na CLT.
Trabalho. Ah o trabalho. Aqui se inicia um tópico sensível. Parece que em toda minha vida eu sempre estava nadando contra uma correnteza muito forte. Sempre me dedicava pois queria entregar o meu melhor e bem feito - muito perfeccionista sempre - mas sentia que gastava uma energia absurda na tentativa de encaixar dentro daqueles contextos empresariais e corporativos. Chegava em casa exausta, sem querer falar com ninguém, sons excessivos me irritavam demasiadamente.
Um dia, lembro de desabar com minha mãe que parecia ter algo de errado comigo, eu deveria ter algum problema, pois sentia a necessidade de fazer um esforço sobre-humano pra conseguir acompanhar o ritmo dos meus colegas, pra aprender as atividades, apesar de que eu sempre disfarçava bem, dava meus pulos sozinha quando precisava executar, eu era criativa pra fazer o que tinha que ser feito. O mundo corporativo é assim, é a junção de todos os contextos que fomos treinados a vida inteira pra ser, na maior velocidade possível. Deadlines, metas, savings, porcentagens, gráficos para medir sua produtividade, comparações internas, planilhas, e minha cabeça sempre entrava em um parafuso na tentativa de acompanhar meus colegas gênios e ágeis, na busca de entregar no prazo e bem feito, e ainda gerir relações interpessoais e todos esses conflitos internos, no fim do dia eu realmente me sentia uma cabeça de touro, como quem fica batendo a cabeça contra a parede, seguia eu na frenética luta de me encaixar. Era exaustivo.
Após anos de idas e vindas na terapia como meu colete salva vidas, nos últimos 6 meses finalmente tive a oportunidade de embarcar nela como uma jornada de autoconhecimento. Segundo minha psi linda e preciosa, já fiz grandes avanços ✨very proud ✨. Estou tão determinada a me entender melhor que sempre estou buscando algo que me ajude nesse processo.
Imergi agora nos temperamentos. Ainda não fiz o teste com um profissional, pretendo em breve, mas depois de tanto ouvir e ler sobre, me descobri como uma melancólica com alguns traços de sanguínea (talvez minha mãe tenha parcelas de culpa aqui, uma verdadeira sanguínea que muito me moldou ao longo da vida). Foi como se o mar vermelho tivesse aberto bem diante dos meus olhos. Agora tudo faz sentido. Eu sou uma introvertida, que a vida inteira fez um esforço pra ser diferente da minha própria essência e me encaixar em algum lugar rápido e veloz que o mundo pedia.
Os melancólicos precisam de tempo. Tempo pra pensar, refletir e se entender melhor. Eu nunca tive esse tempo, ou pelo menos nunca entendi que precisava dele, logo, claramente não desenvolvi muito bem meu autoconhecimento.
Agora percebo que não tinha e não tem nada de errado comigo. Não há problema em ter um ritmo mais lento, mais dentro de si. Não tem problema analisar as coisas antes. É só o meu temperamento. Não sabia a preciosidade que seria conhecer mais sobre mim, abraçar essas características e respeita-las, olhá-las como algo positivo e utilizá-las ao meu favor.
Hoje depois de me conhecer um pouco mais, já não preciso mais me esforçar tanto numa profissão que não me encaixo, me descubro cada vez mais numa área artística - a fotografia - que é o completo oposto do mundo corporativo que tentei caber.
Agora tenho tempo. Tempo pra pensar, refletir, escrever, e em meio a esse tempo, eis que me ocorre um choque de realidade: eu saí da pressa, mas ela não saiu de mim. Necessito de um ritmo mais lento, mas não sei como respeita-lo. Eu já estava tão acostumada com velocidade da vida que assumi, que no momento onde seguir aquilo que minha mente pede, eu não sabia o que fazer, como agir, pois estava totalmente condicionada e treinada a viver daquela forma.
A conclusão disso tudo é que, não tem conclusão nenhuma kkkkk pois ainda estou aprendendo a respeitar quem eu sou e minha lentidão interna.
Mas queria lembrar que tá tudo bem você ter um ritmo diferente. Você não é louco, burro, nem tem um problema grave por não ser igual a todo mundo. Você não precisa tentar desesperadamente se encaixar em lugar nenhum. O seu lugar de pertencimento virá naturalmente.
E assim seguimos, aprendendo sobre como lidar com esse mundo cada vez mais apressado e imediatista e com a gente mesmo no meio disso tudo.
Quando a vida pedir pressa, não se esqueça, pare, olhe, escute. Respeite seu ritmo!